1741 — Mudança é palavra de ordem em “Portugal Visto do Exterior”

Feb 28, 2003 | Conteúdos Em Português

APDCA APDC promoveu recentemente, no CCB – Centro Cultural de Belém, a conferência “Portugal Visto do Exterior – Os Investidores Estrangeiros nas Comunicações”, levando à discussão o investimento estrangeiro em Portugal na área das TIC´s e a visibilidade do País no exterior. A necessidade de mudança foi a palavra de ordem neste debate que ficou marcado pela presença de Mike Moore, antigo Primeiro Ministro da Nova Zelândia e ex-director geral da Organização Mundial do Comércio (WTO).

José Ferrari Careto, da APDC, Luís Figueira, da organização da Conferência e José Saraiva Mendes, da ANACOM abriram a sessão apresentando as três principais linhas orientadoras do encontro: a necessidade de discutir o estado actual das comunicações em Portugal, o problema da falta de investimento interno no nosso País e a sua consequente procura no exterior.

Mike Moore discursou sobre os problemas económicos da sociedade global partindo da convicção de que «os países precisam de objectivos, que serão atingidos com a iniciativa governamental e com o poder dos investidores privados».

Salientando o poder dos sistemas comunicacionais enquanto factor determinante no desenvolvimento dos processos de captação de investidores, este especialista recordou que «os últimos 50 anos viram um progresso nunca antes observado na evolução do Homem». Na sua opinião, o conceito de globalização contribuiu em muito para que pequenos países começassem a emergir no panorama mundial, mas a sua complexidade leva a que «para alguns [seja] uma mão enorme que agarra o mundo, mas não um processo evolucionário do mundo e das sociedades». Afinal, «a globalização é aquilo que fazemos com ela», concluiu.

Por outro lado, Mike Moore defendeu o combate à marginalização, que considera afectar de forma grave a evolução das nações mais carenciadas, como por exemplo o investimento feito para dinamizar o processo de procura/oferta dos mercados europeus. Na sua opinião, «esse acto [é] um atentado contra os países pobres, uma vez que está a roubar recursos monetários» que poderiam ir para os países necessitados.

Concluindo, Moore apelou à mudança permanente, sublinhando que só o dinamismo funciona «como preventivo dos problemas que estamos a enfrentar, sobretudo na Europa e nos Estados Unidos».

No painel “Uma experiência de investir e trabalhar em Portugal”, dedicado às empresas de equipamentos de telecomunicações, Carlos Melo Ribeiro, responsável da Siemens em Portugal , começou por afirmar que «em termos de investigação e desenvolvimento, Portugal compete ao nível dos países da Ásia e dos Estados Unidos». Mas em termos do mercado eléctrico e electrónico, «Portugal está num dos últimos lugares da Europa».

Uma Administração Pública sem competitividade e formação deficiente constituem os principais obstáculos ao investimento em Portugal. É esta a principal conclusão a retirar do segundo painel dedicado a “Uma experiência de investir e trabalhar em Portugal” , desta vez na óptica das tecnologias de informação.

A apresentação central esteve a cargo de José Joaquim Oliveira, da IBM, segundo o qual «a entrada da sua empresa em Portugal marcou o panorama tecnológico nacional», já que Portugal beneficiou de uma modernização quer em termos tecnológicos, quer em termos de recursos humanos». José Oliveira destacou a relação de parceria que existe hoje entre a IBM Corporation e Portugal, que resulta numa «troca de know-how português para com as restantes subsidiárias e diversos projectos de cidadania empresarial». Optimista, o representante da IBM terminou a sua intervenção afirmando: «somos um povo acolhedor, com capacidade de inovação, adaptação e potencial de resposta e assim vale a pena investir em Portugal».

Presentes no debate estiveram Francisco Duarte, da Cap Gemini Ernst & Young, João Matias, da Oracle, João Paulo Girbal, da Microsoft, Josmar Ribeiro, da Sun Microsystems, Luís Deveza, da Unisys, e Maria João Tavares, da Siebel . Os vários especialistas concluíram que a formação insuficiente e a falta de competitividade da Administração Pública constituem as principais desvantagens nacionais. Além disso, o mercado na área das tecnologias de informação apresenta uma dimensão reduzida, comparativamente com o resto da Europa, e persiste um «pensamento pessimista», que também inibe o investimento do exterior.

Ainda assim, houve unanimidade em afirmar a elevada capacidade de inovação, adaptação e criatividade existente no País, como demonstram a criação do sistema Multibanco ou da Via Verde . Mais uma vez, a aposta passa pela mudança na execução.

A última sessão da conferência da APDC, da responsabilidade de Fernando Costa Lima, da API – Agência Portuguesa para o Investimento seguiu a lógica da mudança, centrando-se nos factores que devem ocorrer para que se verifique uma atracção do investimento exterior.
Sublinhando a importância da competitividade para a criação de investimento, Costa Lima apontou como mudanças necessárias, por um lado, a alteração da atitude da máquina do Estado, redução das burocracias e criação de «uma verdadeira atitude nas pessoas do Estado e não tanto da legislação». Por outro, o representante da API aponta a necessidade de flexibilização do mercado laboral, de modo a evitar «bloqueios à saída e por consequência bloqueios à entrada de investimento estrangeiro».

Neste contexto, a API está a promover alterações à legislação, tanto de licenciamento de empresas, como laboral; a reduzir a taxa de imposto sobre as empresas e a alterar a formação dos recursos humanos, entre outras medidas.

Em jeito de conclusão, Costa Lima deixou um sinal de esperança, ao afirmar que «Portugal não está na moda», mas a API tem «a vontade férrea de tentar convencer [os investidores] com micro-argumentos» e está a apostar na personalização do atendimento e na procura de investidores «onde quer que eles estejam».

Gabriela Costa

2003-02-28

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