3373 — Jornalismo nas TIC, Internet Media & Blogs – Reinventar modelos de publicação

Jan 24, 2005 | Conteúdos Em Português

TIC em Portugal (CC/PH) - 20 de Janeiro

 

Realizou-se ontem, em Lisboa, mais uma edição do Encontro Anual promovido pelo Centro de Contacto e PressHit, dedicado às “Tecnologias de Informação e Comunicação em Portugal”. O debate reuniu na Livraria Ler Devagar, em Lisboa, um painel de especialistas dos Media e profissionais de Comunicação do sector das TIC, que avaliaram o estado da actividade jornalística no sector, a influência da Internet nos Media e a tendência emergente dos novos modelos de informação, cujo expoente máximo são, hoje, os blogs.

O debate, com carácter público e informal, foi moderado por Manuel Melo, director geral do Portal Centro de Contacto, que abriu a discussão ao balanço da evolução dos Media especializados nas TIC.

O director geral da ComputerWorld , que acompanha este Encontro há quatro anos, traçou esta evolução a dois níveis – estrutural e conjuntural -, recordando que Portugal mantém um problema estrutural em matéria de iliteracia, com atrasos significativos nesta matéria.

Já no que concerne a actual conjuntura do sector, Timóteo Figueiró salienta que o agravamento da crise económica, no período pós “bolha” da Internet, conduziu à redução do número de publicações especializadas para cerca de metade, face a 2000. «As publicações não vivem das vendas, mas dos investimentos publicitários». E estes têm de contar, hoje, com um novo factor: o Retorno do Investimento (ROI). «A publicidade, de per si, terá de justificar os montantes investidos, em termos de retorno», concluiu.

Assim, urge «reinventar modelos de publicação nesta indústria», tendo em conta que, com a Web, a informação tende a tornar-se um serviço. «A informação já não se esgota no jornal, mas estende-se a uma série de produtos que sirvam de mais-valia à própria indústria (jornalística) e aos anunciantes». Para o director da ComputerWorld , sem esta estratégia, «todas as publicações de nicho terão muita dificuldade em sobreviver». Contudo, não devemos esquecer que a «consolidação dos Media» pode não corresponder a uma oferta de qualidade aos leitores.

Alertando para o poder de mediatização da Internet, Pedro Amaral, director geral da BiT , sublinhou que a informação sobre forma de rumor, frequente no crescente número de blogs que prolifera no País, afecta as empresas, nomeadamente as que estão cotadas em Bolsa, dado o seu carácter pouco deontológico.

Por outro lado, o fenómeno da gratuitidade dos conteúdos banalizou-se, mas em áreas específicas do Conhecimento justifica-se a publicação de conteúdos pagos, ainda que a sua implementação seja difícil, rematou Amaral .

Baseando-se no estudo que desenvolveu com base no tema mais comentado pelo leitores do Expresso Online em 2000 (a criação da Fundação Jorge Álvares) e que deu origem ao livro “No Reino do Anonimato” – Estudo sobre jornalismo online, publicado pela Gradiva Coimbra -, José Pedro Castanheira destacou o factor do anonimato como o mais característico desta nova tendência para dotar a informação online de um “poder” interactivo com o leitor. Esta «corrente claríssima para o refúgio do autor numa cortina de anonimato» está associada, para o jornalista do Expresso , ao que de pior se pode produzir ao nível de conteúdos, já que «o anonimato quebra regras deontológicas, confunde opinião com informação e lança o rumor».

O estudo de Castanheira permitiu ainda detectar que a interactividade entre o autor da notícia e o seu leitor não se estabelece verdadeiramente, visto que, quer por se tratarem de comentários anónimos, perjurativos ou em volume excessivo, não obtém, muitas vezes, resposta por parte dos jornalistas.

Finalmente, o recurso à Net como fonte de informação gera frequentemente histórias, nas colunas de comentários dos orgãos de comunicação online, que não passam de grandes invenções. Caracteristicamente, o tom utilizado neste tipo de conteúdos é difamatório, colocando em conflito a cultura jornalística (de autor) com uma inversa, própria dos blogs, conclui. Para Castanheira, hoje «a confusão entre intriga e informação é de tal ordem que obriga o jornalista a confirmar todos os detalhes» (da notícia). O jornalista do Expresso assume-se «muito pessimista em relação à evolução dos media online na questão dos blogs e comentários».

Luis Rosendo, da APAP – Associação Portuguesa das Empresas de Publicidade e Comunicação, criticou a visão de Castanheira, considerando estar-se a «confundir jornalismo com conteúdos anónimos». No seu entender, «os critérios editoriais de publicação da opinião dos leitores devem ser os mesmos na Internet e nas edições impressas». Nomeadamente, no que concerne o anonimato dos autores, devendo presidir uma linha editorial que não publique os conteúdos não assinados.

Rosendo acredita que a Comunicação deve ser pensada de uma forma neutral, até porque «as pessoas sabem ver onde está o certo e o errado. E julgam». Quanto ao papel dos anunciantes e agências de comunicação, há uma «nova oportunidade de negócio para nichos de mercado», que encontram o seu valor acrescentado «na qualidade desse nicho face ao mercado».

Mas, como questionou Manuel Melo, face ao panorama dos últimos anos, em que «foi visível uma diminuição tanto do número de jornalistas como do número de orgãos a actuar no sector das TI », que mercado temos?

Timóteo Figueiró foi peremptório em afirmar que é preciso separar o Business to Business (B2B) do Business to Consumer (B2C) tendo em consideração que no primeiro caso a circulação tem de ser controlada, num esforço para chegar ao público alvo, enquanto, no segundo, o mercado realmente estreitou. Com o fecho de publicações como a PC World ou a Internet Prática, perdemos qualquer coisa como 30 mil leitores».

Para Pedro Amaral, tal factor deve-se em parte às transformações do próprio público, que não está tão cristalizado na área». Hoje em dia as pessoas querem ouvir falar sobre a utilização da tecnologia e não sobre os aspectos técnicos, concordou Figueiró .

Estas mudanças na tipologia do público alvo das matérias inerentes ao sector das TIC podem até levantar o risco dos orgãos generalistas virem a “roubar” às publicações especializadas o público B2C , concluiu-se.

Gabriela Costa

2005-01-21

Em Foco – Opinião