1074 — Multimedia é uma área de crescente predominância nas TMT em Portugal

Nov 19, 2002 | Conteúdos Em Português

APDCLisboa, 11 de Novembro de 2002 – A APDC – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (www.apdc.pt), realizou a Conferência Multimédia XXI’ 2002, que decorreu no passado dia 7, no CCB, em Lisboa.

O evento, que contou com inúmeras personalidades de destaque da área do multimedia, incluiu também, no seu programa, um espaço dedicado à cerimónia de Entrega dos Prémios MM XXI’ 2002.

A Sessão de Abertura do evento contou com a presença de José Ferrari Careto, Vice-Presidente da APDC, e de Joaquim Jorge, da Comissão Organizadora. O representante da APDC deu início à agenda de trabalhos realçando a importância da realização desta conferência que “acontece num momento em que o panorama do multimedia conhece aspectos bastante positivos, sendo que a tendência para o futuro é o crescimento deste sector”.

O período da manhã, dedicado ao tema genérico “Multimédia, Conhecimento e Comunicações: rumo à Sociedade do Saber”, foi iniciado por Michel Cartier, da Universidade do Québec, que centrou a sua intervenção no tema “A Web do Conhecimento: Web3”.

Web3 é a Web do conhecimento, dos portais temáticos, das imagens e dos nichos

Para Michel Cartier, a sociedade actual não está em recessão, mas sim em progressão, em reorganização e “parece desenvolver-se a partir de novas regras que devemos aprender a dominar, afim de adquirir uma visão de conjunto essencial à elaboração das nossas estratégias”. Deste modo, a sociedade emergente deve ser analisada a partir dos pólos tecnológico, onde a luta é oferecer aos consumidores um melhor acesso aos conteúdos e aos serviços; económico, onde se procura o desenvolvimento de novos mercados; e social, onde se pretende conquistar o imaginário das pessoas.

É desta análise que, segundo aquele responsável, “podemos compreender o que falhou no passado e definir estratégias para o futuro, para a sociedade do saber emergente, que é a da nova web (a Web3). O aspecto mais importante a ter em conta na definição dessas estratégias é o da localização e identificação dos novos clientes, pois são estes que irão utilizar o e-Commerce, o e- Government e o e-Learning. Estes novos clientes não têm muitas afinidades com os actuais que não compreendem as novidades que aí vêm. Michel Cartier referiu ainda que a Web3 será a web dos portais temáticos, das imagens e dos nichos.

António Cerveira Pinto, da Quadrum, abordou o tema “A Arte da Comunicação Multimédia em Portugal”, começando por demonstrar um projecto web que consiste em transformar uma galeria de arte física numa galeria digital, isto para ilustrar que, em Portugal, os artistas começam a ter um interesse crescente para trabalhar na web.

No entanto, aquele responsável, referiu que: ”em Portugal a formação computacional nas escolas de arte sofre um atraso de 10 anos, ou seja não existe. Os custos de investimento são muito avultados e não existem, como nos Estados Unidos, parceiros tecnológicos dispostos a participar neste tipo de projectos”.

No que respeita à questão dos conteúdos, António Cerveira Pinto considera que tem de haver um cruzamento entre os indivíduos e as organizações pois “a Web é de todos e, como tal, têm de ser todos os indivíduos a produzir os conteúdos. A ideia de que essa produção de conteúdos deve passar por determinadas organizações tem de ser ultrapassada”.

Obstáculos no sector obrigam a redifinição de estratégias de negócio

O período da manhã terminou com uma mesa redonda subordinada ao tema “A Nova Desordem nas Comunicações: Marasmo no multimédia”, onde participaram Luís Nazaré, Carlos Bártolo, Manuel Pedroso Lima e Pedro Veiga.

Luís Nazaré começou por fazer uma breve análise ao sector, referindo que “vive-se actualmente um clima de desânimo que se deve essencialmente a factores como o atraso na introdução de algumas tecnologias, o conjunto de expectativas falhadas, as falências das empresas e o desânimo dos mercados financeiros”.

Numa perspectiva de futuro, Luís Nazaré enumerou alguns factores que, no seu entender, constituirão uma ameaça para o sector. “A mentalidade de gestão a curto prazo, o proteccionismo dos governos, o centralismo crescente da Comissão Europeia, a acomodação dos operadores incumbentes e a concentração excessiva de redes e meios de transmissão em poucas entidades, são aspectos que constituem uma ameaça para os sector”.

No entanto, o mesmo responsável considera que existem também algumas oportunidades, que passam “pelas novas tecnologias que conferem uma margem de progressão a nível dos serviços, pelas wireless LANs, pelas expectativas dos consumidores e pela entrada dos operadores internacionais para fornecimento de serviços no nosso país”.

Carlos Bártolo abordou o tema referindo que existem alguns aspectos relacionados com a questão do pagamento de conteúdos, com a definição de preços e com a área dos pagamentos móveis, que têm de ser repensados a curto prazo. “

Manuel Pedroso Lima centrou a sua apresentação na questão do audiovisual referindo que: “a questão dos conteúdos atractivos só pode ser encarada numa perspectiva mais global, relacionada com as telecomunicações. Penso que chegou o momento de se pôr fim ao voltar de costas das telecomunicações ao audiovisual.

A intervenção de Pedro Veiga abordou algumas questões que, segundo o orador, constituem ainda sérios obstáculos ao desenvolvimento da banda larga em Portugal. “Numa altura em que se tenta massificar o acesso às tecnologias de banda larga, confrontamo-nos com um quadro legislativo ineficiente, marcado por entraves como a problemática dos direitos de passagem e a entrada tardia e dificultada dos novos operadores”, referiu.

Uma das soluções avançadas por este orador para contornar o problema da banda larga e dos atrasos sucessivos do UMTS é o avanço para as wireless LAN e os apoios governamentais em termos de acesso.

3ª geração móvel potencia novos serviços multimedia

O período da tarde subordinou-se ao tema genérico dos “Gestores da Sociedade do Conhecimento” e, numa primeira fase, incluiu as participações de António Câmara (YDreams), Richard Collin (i-km) e José Tribolet (INESC).

Para a YDreams, os mercados relevantes em termos de 3G passam pelos serviços baseados em localização e pelos serviços de entretenimento móvel. António Câmara apresentou uma tipologia de produtos e serviços que descreve a postura e as apostas da YDreams relativamente a estes mercados.

A nível de produtos business-to-consumer, o acesso a informação é um factor central. “A YDreams está a desenvolver sistemas que permitam a disponibilização de mapas e guias de localização bem como um sistema de alertas de tráfego que permita o acesso e a visualização das câmaras de tráfego instaladas em todo o país”, adiantou o responsável.

“Existem ainda projectos ligados à informação desportiva que incluem, por exemplo, a disponibilização dos golos de uma equipa num telefone móvel. A área de entretenimento é aquela em que se espera um maior desenvolvimento, com jogos Java e jogos baseados em localização. A médio prazo, as soluções disponibilizadas incluirão a micro-geografia com radio tags, a realidade aumentada e o reality gaming”, concluiu António Câmara.

Economia de Conhecimento é uma Economia de Qualidade

A apresentação de Richard Collin centrou-se nos “Valores Organizacionais e Gestão da Sociedade do Conhecimento”, começando com a ideia de que o desafio das sociedades actuais é “assegurar colectivamente o desenvolvimento/ crescimento e a criação de riqueza, que só será possível se nos apoiarmos na nossa identidade cultural”.

Segundo este responsável, o sistema económico começou por se organizar sob uma lógica territorial onde o ponto de referência era o Norte. Sobrepôs-se posteriormente um sistema de economia de mercado, pautado pela transacção/ troca de bens e referenciado pelo Dow Jones. Estamos neste momento a transitar para um espaço e uma economia de conhecimento em que já não é a raridade dos “bens” que faz o preço mas a sua difusão.

A diferenciação é um factor central e decisivo nesta economia do conhecimento e o valor acrescentado não está na produtividade mas na qualidade. “Hoje, o desafio é o da propriedade intelectual. O capital humano é a riqueza essencial das organizações e o actor da inovação”, comentou Richard Collin.

Por sua vez, José Tribolet (INESC) apresentou algumas considerações acerca de Business Intelligence baseadas no pressuposto das alterações no sistema cognitivo humano associadas ao aumento dos instrumentos sensoriais que medeiam a relação entre o indivíduo e o seu contexto.

O conceito de “cockpit informacional”, apresentado pelo responsável do INESC, reflecte esta ideia que envolve as sinergias resultantes das interacções entre as comunicações, a informática e os novos media.

Redes de Conhecimento, Comunicações e Multimedia

O segundo período de debate da tarde deu lugar a um grupo de reflexão sobre Redes de Conhecimento e Comunicações e Multimedia, com a presença de Richard Collin (i-km) Joaquim Jorge (GPCG), José Tribolet (INESC), António Cerveira Pinto (Quadrum) e Nuno Correia (FCT/UNL).

No âmbito das Redes de Conhecimento, a ênfase foi dada à necessidade do aproveitamento de novas ideias que ultrapassem as “velhas ideias” de Internet, hipertexto e estruturação da informação.

Em relação às perspectivas de futuro das comunicações e do multimedia, abordaram-se questões como as novas formas de convergência dos media (em que o computador pessoal e a TV coexistem com outros dispositivos), a mudança de paradigma nas comunicações, a inteligência nos objectos e os wearable computers.

Outra das questões incontornáveis nesta área relaciona-se com as novas formas narrativas, onde se passou de um modelo de narrativa tradicional, marcado pela passividade, para um modelo de múltiplas histórias e múltiplos canais de interacção, com narrativas baseadas na localização do utilizador e na sua participação (conceito de meta-cinema).

Foi ainda feito um apontamento relativamente à necessidade de criar comunidades criativas e interdisciplinares que envolvam a ciência, a tecnologia e as artes.

Web da terceira geração

O último tema a debate na Conferência Multimédia XXI deste ano subordinou-se às “Redes de Excelência e Inteligência Competitiva” e contou, mais uma vez, com a presença de Michel Cartier, da Universidade do Québec (Montréal).

Segundo este orador, a web que se está actualmente a desenvolver relaciona-se com três factores fundamentais: acesso a conhecimento; nichos; complementaridade mediática (livro, jornal, televisão, web).

Vislumbrando algumas tendências, Michel Cartier considera que a web do futuro não se vai basear nos livros e no texto. A abordagem será cada vez mais visual e a nova web resultará da estratégia combinada entre esquema, texto e imagem.

Antecedendo a Cerimónia de Entrega dos Prémios MM XXI’ 2002, a Sessão de Encerramento da Conferência Multimédia XXI’ 2002 contou com a presença de Luís Ribeiro, Presidente da APDC, Joaquim Jorge, da Comissão Organizadora e Álvaro Dâmaso, da ANACOM.

SOBRE A APDC

A APDC – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações, foi criada em Novembro de 1984, como instituição de utilidade pública sem fins lucrativos. Com a missão de acompanhar de muito perto a evolução do sector em Portugal e gerar um polo de debate, a APDC tem vindo a desenvolver actividades, desde então, no sentido de reflectir as grandes tendências deste mercado na sociedade portuguesa.

Hoje, com cerca de 2000 sócios individuais e cerca de 200 empresas associadas, a APDC fomenta e desenvolve várias actividades ao longo do ano, desde seminários a jantares-debate, passando pela criação de um novo certame dedicado à área do Multimédia, até à publicação mensal da revista Comunicações, atingindo o auge das suas actividades com a realização anual do Congresso das Comunicações, este ano na sua 12ª edição.

Mais informações sobre a APDC podem ser encontradas no seu site: www.apdc.pt.

http://www.apdc.pt

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