2517 — Director geral da CRH desmente irregularidades em call center da EDP

Oct 8, 2003 | Conteúdos Em Português

CRHEDPEm notícia publicada a 6 de Outubro, o jornal Público denuncia irregularidades no call center da EDP, cujos trabalhadores têm vínculo à CRH, consultora de Recursos Humanos. A Inspecção Geral de Trabalho (IGT) terá detectado contratos de trabalho ilegais, obrigando a empresa à integração de mais de 200 trabalhadores nos quadros permanentes. Vários sindicalistas atestaram o não cumprimento do prazo dado pela IGT para regularizar a situação e alertaram para condições de trabalho precárias, afirma a mesma fonte. Em entrevista ao Centro de Contacto, Filipe Duarte, director geral da CRH, desmente estas afirmações.

Centro de ContactoConfirma que 223 trabalhadores da CRH, a operar no serviço de atendimento telefónico da EDP, estão com contrato de trabalho ilegal a tempo incerto?                                                Filipe Duarte – Não, nada disso é verdade. Essa notícia foi publicada sem a confirmação da CRH , sem que o jornalista que a escreveu perguntasse se os factos enumerados eram ou não verídicos, ou sequer pedisse um comentário nosso às afirmações feitas.

Então qual é a situação dessas pessoas?
Essas pessoas estão todas no quadro, neste momento.

Mas, dado que a subcontratação do serviço de call center da EDP constitui a actividade principal da CRH, a lei prevê que esses trabalhadores têm de ser considerados trabalhadores permanentes da empresa. Quer dizer que pertencem aos quadros da CRH desde o início do contrato estipulado com a EDP, em Março de 2001?
Essas pessoas pertencem ao quadro da nossa empresa. Não podemos dizer que sempre pertenceram, mas foram integradas no quadro, em devido tempo.

Quando? Antes ou depois do prazo dado pela IGT para regularizar a situação (5 de Agosto)?
As pessoas foram integradas dentro dos prazos que nos foram dados, evidentemente. Não percebemos o interesse da notícia, que vem numa altura em que toda essa questão está resolvida.

Portanto, confirma que houve uma inspecção ao call center da EDP, mas que a CRH, dentro dos prazos indicados pela IGT, passou todas as pessoas aos quadros, é isso? 
Sim, houve uma inspecção, foi detectado que a alínea que estava a ser invocada não era aplicável, nós concordámos com isso e actuámos imediatamente em consonância. Repare que o comunicado dos sindicatos que aponta irregularidades no call center da EDP foi publicado há três meses. E é agora que aparece, também não se percebe porquê.

Mas como é que explica as afirmações dos sindicalistas, contrárias às suas, designadamente em relação ao cumprimento do prazo concedido pela IGT para a CRH integrar estes trabalhadores nos quadros?
– Isso não é verdade.

Outra questão referida na notícia é que, durante o processo de regularização destes contratos, a CRH estaria a proceder a novas cláusulas, como por exemplo o trabalhador ter de se apresentar ao serviço uma hora depois de ter sido chamado. É verdade?
Isso não são novas cláusulas, mas condições que constam nestes contratos há muito tempo. Todas as pessoas que o desejem participam num regime de prevenção, graças ao qual quando há problemas graves na EDP – por exemplo, um apagão – a reparação é assegurada.
Trata-se de um sistema de prevenção aplicado a pessoas que recebem, por isso mesmo, um subsídio especial. Não passa disso. Adere ao sistema quem quiser, através de uma lista rotativa de trabalhadores, de forma a distribuir esse ônus, que é pago. Isso está no contrato com a EDP. É normal que as empresas que prestam serviços deste género tenham este tipo de prevenção.

O contrato celebrado com a EDP foi recentemente renovado ou prorrogado?                                              Isso são problemas de gestão interna. As empresas poderão ou não dar aumentos salariais. Não vejo qual o problema que temos aí. Nós temos um contrato com a EDP que é automaticamente renovado, se nenhuma das partes o denunciar. É um processo normalíssimo…

A questão, para os delegados sindicais deste grupo de trabalhadores, é que não houve, nem irá haver aumentos salariais até Fevereiro de 2004.                                                                                                      Como lhe digo, isso são problemas de gestão que a mais ninguém dizem respeito.

Dizem respeito não só à entidade patronal mas também aos trabalhadores, não é?                                    Sim, com certeza.

Essa e outras questões, como a das condições de trabalho. É dito na peça publicada pelo jornal Público que estes trabalhadores exercem a sua actividade num número excessivo de horas, que têm uma pausa para almoço de apenas 15 minutos e que, inclusivamente, têm de obter autorizações para se deslocarem à casa de banho, sujeitando-se a uma lista …                                                                                                               Bem, eu admito que os sindicatos procurem “puxar a brasa à sua sardinha”. O que me admira é que haja jornalistas que sabem perfeitamente que os sindicatos têm uma determinada postura nas relações de trabalho, e que pura e simplesmente se limitam a repetir o que os sindicatos dizem (não sei se foi o que aconteceu), sem procurar saber o que a outra parte tem a dizer. É que a imagem dada pelos sindicatos não tem nada a ver com a realidade.

A que sindicatos se refere?
Não tenho nomes presentes, mas há um sindicato que publicou um comunicado a 7 de Julho sobre esta questão. É nesse comunicado que se baseia o artigo do Público. Não posso afirmar peremptoriamente que seja um sindicato da EDP , mas julgo que se tratam de delegados sindicais deste grupo de trabalhadores. 

Como classifica as condições de trabalho no call center da EDP?                                                                 São próximas de ser excelentes, em quase todos os aspectos: tanto do ponto de vista do ambiente de trabalho, como do das relações humanas, como até do ponto de vista salarial.

E no que concerne o horário de trabalho, a pausa para almoço e as deslocações à casa de banho?             Os horários estão todos feitos dentro da legalidade, isto é, ninguém trabalha mais de cinco horas consecutivas, todas as pessoas têm uma hora de pausa para almoço e ninguém trabalha mais de oito horas por dia.
Quanto à casa de banho, querem dar a ideia de um universo de relações laborais difíceis que não corresponde minimamente à realidade. A realidade é a de um ambiente harmonioso e de relações fáceis com o exterior. Mas eu compreendo que os sindicatos queiram dar essas ideias, até para recolocar as suas posições.

Perante a notícia que veio a público e atendendo a que desmente todas as afirmações feitas, vai tomar alguma medida no sentido de emitir uma posição oficial sobre este assunto?                                                  O que veio a público é estranhíssimo e pouco deontológico. Não conseguimos perceber como é que se pode emitir uma notícia em que nada é perguntado à entidade envolvida. Estamos a pensar em tomar medidas.

2003-10-08

Gabriela Costa

Nota: até à data, não foi possível obter quaisquer declarações sobre esta matéria junto dos responsáveis da Inspecção Geral do Trabalho ou da EDP.

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