3191 — Relatório “Open Source Software – Que oportunidades em Portugal?”

Sep 24, 2004 | Conteúdos Em Português

Estudo «O Open Source Software não pode ser mais visto como uma “moda passageira” que se esvanecerá a mais ou menos curto prazo, mas sim como uma opção credível, criadora de oportunidades de elevado potencial, que deverá ser “obrigatoriamente” tida em conta por qualquer decisor ou técnico envolvido de alguma forma com as Tecnologias de Informação». É esta a principal conclusão de um estudo da responsabilidade da APDSI, dedicado às oportunidades do Open Source Software em Portugal, cuja apresentação pública decorreu esta semana, em Lisboa.

Pretendeu-se, com a elaboração deste documento, contribuir para uma análise fundamentada, objectiva e desapaixonada, sobre as oportunidades do Open Source Software (OSS) em Portugal.

Tal como referido na introdução, as tendências de crescimento previstas para o OSS por grandes empresas analistas, o interesse verificado em vários países, regiões e organismos que referem o recurso a este tipo de soluções nas suas directivas estratégicas, a oportunidade que outros países vêem no OSS para o desenvolvimento local de uma indústria de software, tornam o Open Source Software um fenómeno que não pode ser ignorado.

Mas quais são, concretamente, as oportunidades que o Open Source Software pode propiciar aos vários tipos de utilizadores?

→ Na perspectiva do utilizador de Tecnologias de Informação (TI’s), o Open Source Software apresenta-se hoje como uma via de obtenção de soluções credível, que pode competir nalguns domínios com produtos proprietários no custo, funcionalidade e estabilidade que disponibilizam.

Mas importa que um decisor, com responsabilidades sobre as soluções informáticas da sua instituição, tenha presente que um eventual processo de adopção de Open Source é um processo complexo, como qualquer mudança mesmo dentre versões do mesmo produto proprietário, que exige planeamento cuidado.

Por outro lado deverá atender a que uma migração pode/deve ser faseada, sendo viável a coexistência de produtos OSS com produtos proprietários. A opção por um ou outro tipo de soluções deve ser vista caso a caso e baseada nos “méritos próprios” dos produtos, aferidos pelos critérios que, em última análise, reflectem os interesses do negócio, da empresa, da instituição.

Quanto ao custo real das soluções Open Source, alvo de opiniões contraditórias, pensamos que uma organização que, com realismo, pretenda avaliar o recurso a OSS, deverá fazê-lo utilizando os seus critérios próprios para determinação de TCO e ROI, adaptados à sua realidade. Para o utilizador das TI’s o Open Source Software veio de qualquer modo alargar o leque de alternativas às soluções proprietárias existentes, para os casos em que estão disponibilizados produtos de qualidade, permitindo evitar dependências indesejáveis de fornecedores (“vendor lock-in”) e trazendo uma capacidade acrescida de negociação. Acresce que a obediência a standards abertos, seguida em geral pelos produtos Open Source, constitui um elemento de independência face a fornecedores específicos, pois potencia a interoperabilidade e compatibilidade entre soluções de várias origens.

→ Para as empresas que actuam no domínio das TI’s, seja em actividades de consultoria, desenvolvimento de sistemas e aplicações, formação, etc., o Open Source Software abre várias oportunidades de negócio. Permite o desenvolvimento de soluções incorporando componentes OSS ou realizando adaptações a necessidades específicas locais, oferecer serviços suportados em sistemas Open Source, disponibilizar no mercado apoio na instalação e manutenção a clientes que tenham optado por este tipo de software, oferecer cursos sobre estas ferramentas.

Abrem-se, em consequência, perspectivas para uma indústria de software nacional, incorporando know-how local, sobretudo numa altura em as primeiras “levas” de licenciados com adequada preparação em Open Source estão a chegar ao mercado de trabalho.

→ Para a Administração Pública (AP), sem dúvida um actor de peso na mercado das Tecnologias de Informação em Portugal, o Open Source Software traz alternativas às soluções existentes, contribuindo para os princípios saudáveis da concorrência e possibilitando a não dependência indesejável de fornecedores. Num ambiente de contenção de despesas e potencial redução de custos, a capacidade de negociação que as soluções alternativas viabilizam são elementos a considerar. Interessará marcar claramente, em processos de aquisição, o princípio de que as soluções OSS devem ser tratadas em pé de igualdade com produtos proprietários.

Nalgumas áreas sensíveis para o Estado, tais como defesa e segurança, a “inspeccionabilidade total do código fonte”, que o Open Source Software por natureza oferece, constitui um factor a considerar. Ainda na Administração Pública, a perspectiva Open Source pode abrir uma nova forma de colaboração de interesse. Aplicações de carácter “genérico”, desenvolvidas internamente ou por outsourcing para o próprio organismo, mas que possam ser úteis a outras entidades e que não constituam “vantagem competitiva”, poderão ser disponibilizadas às outras instituições do Estado “em regime de Open Source intra-AP”. Potenciar-se-ia assim uma maior robustez e funcionalidade a essas aplicações, um garantia acrescida de manutenção e evolução e, sem dúvida, uma redução global de custos.

→ Quanto aos distribuidores e assembladores nacionais de postos individuais de trabalho (desktops, portáteis, unidades de mão, etc.) onde, com raras excepções, a oferta de soluções Open Source ainda tem uma expressão muito reduzida, parece-nos que o OSS cria oportunidades interessantes. Será possível caminhar para uma redução importante dos preços dos produtos oferecidos, adaptar/localizar as soluções OSS a domínios particulares. Este tipo de oportunidades começa a ser explorada em vários países, como por exemplo nos EUA e México, tendo obviamente um mercado potencial de grande dimensão – o posto de trabalho de grande divulgação.

Parece-nos, como conclusão final, que o Open Source Software não pode ser mais visto como uma “moda passageira” que se esvanecerá a mais ou menos curto prazo, mas sim como uma opção credível, criadora de oportunidades de elevado potencial, que deverá ser “obrigatoriamente” tida em conta por qualquer decisor ou técnico envolvido de alguma forma com as Tecnologias de Informação.

Fonte: APDSI



2004-09-22

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