4047 — “VoIP: Mudança fundamental ou mais do mesmo?”

May 8, 2006 | Conteúdos Em Português

A Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC) organizou, em Lisboa, um debate sobre a temática da Voz sobre IP. O encontro que juntou 120 pessoas entre fabricantes, operadores e entidade reguladora foi unânime na ideia de que a VoIP representa uma mudança no actual paradigma do negócio das comunicações.
 

A primeira intervenção do colóquio esteve a cargo de Tim Stone, da Cisco Systems, que centrou a sua apresentação na questão das comunicações unificadas. «A tecnologia VoIP é bastante interessante para o segmento empresarial, qualquer que seja a dimensão das empresas, uma vez que permite ter comunicações unificadas ao mesmo tempo que reduz os custos com as mesmas», frisou, tendo acrescentado que: «a VoIP simplifica as comunicações, que devido às crescente inovação tecnológicas têm vindo a tornar-se em algo muito complicado”. Todavia, considerou que: «para a VoIP ter sucesso é necessário que haja qualidade de serviço e segurança, uma vez que as empresas não pretendem apenas comunicações a mais baixo custo, mas redes inteligentes e que respondam às suas necessidades.

Na primeira mesa-redonda do colóquio Artur Miranda, Director de Marketing da COLT descreveu a «VoIP como uma nova forma de abordagem aos clientes, de lhes apresentar soluções de voz, podendo explicar-lhes as vantagens directas e indirectas que lhes estão associadas ”.

“Há uma alteração, uma evolução no mercado das comunicações, que leva a que os operadores dêem mais atenção aos seus clientes, às suas necessidades”, acrescentou José Luís Cardoso da AR Telecom. “Está a ocorrer uma mudança extraordinária neste mercado, uma vez que há uns anos atrás o que os operadores de telecomunicações vendiam era um acesso de voz e depois é que vinham os outros serviços, agora os operadores vendem pacotes de serviços onde a voz é mais um ”, acrescentou.

Para Pedro Carlos da Novis, a VoIP representa tanto uma ameaça como uma oportunidade. «A VoIP pode ser uma ameaça porque a indústria das telecomunicações ainda se suporta muito na margem do serviço de voz, por outro lado pode constituir uma oportunidade, principalmente no segmento empresarial, uma vez que é uma ferramenta flexível, que permite dar resposta às diferentes forma de comunicar das empresas ».

A questão da regulação da VoIP foi trazida à discussão por Luís Manica da Anacom. O representante do regulador explicou que esta não é uma questão consensual na Europa, uma vez que uns países adoptaram uma regulação mais liberal enquanto outros foram mais cautelosos. A importância da regulamentação prende-se com a necessidade de se promover uma concorrência saudável, defender-se os interesses dos utilizadores e assegurar uma utilização eficaz dos recursos de numeração, precisou.

A ANACOM mostrou-se especialmente preocupada com a questão da numeração geográfica e do acesso aos serviços de emergência. No primeiro caso, a solução adoptada foi a criação da numeração 30 para os utilizadores nómadas de VoIP, enquanto que no caso do acesso aos serviços de emergência a ANACOM considera que os operadores de VoIP terão de informar sempre os seus clientes das limitações que se colocam ao acesso ao 112.

Paulo Garrido, da Siemens, e Key-note Speaker da segunda sessão do colóquio subordinada ao tema “VoIP: o efeito multiplicador na inovação” ressaltou «que o sucesso da VoIP dependerá da oferta agregada de serviços e não apenas no facto do serviço de voz ser gratuito. O importante será conhecer bem as necessidades dos clientes para se poder fazer face a uma concorrência que irá ser feroz, uma vez que não há muitas barreiras à entrada de novos operadores neste mercado ».

No que se refere às barreiras à utilização da VoIP, os intervenientes na segunda mesa redonda do encontro consideraram que é necessário educar o mercado, no sentido de lhe mostrar que nem tudo é gratuito.
Em relação às barreiras à utilização do VOIP, Luís Ávila da NetCall considerou que: «a evolução dos equipamentos terminais irá permitir uma rápida penetração do VoIP pois torna mais fácil a sua utilização ».

No que respeita ao modelo de negócio VoIP, todos os participantes consideraram que um modelo de negócio tendencialmente gratuito não é sustentável a longo prazo, assim como afirmaram a necessidade de existir uma forte aposta na oferta integrada de serviços, sendo o serviço de voz apenas mais um desses serviços.

Quanto ao caso português, Luís Ávila reconheceu que: «os portugueses estão muito abertos a experimentar esta nova tecnologia e o mercado português não está atrasado em relação ao que se passa no resto da Europa» .

Celso Meira da Redvo Telecom  também reconheceu que o mercado português está ao nível do europeu e que a VoIP irá ter uma maior visibilidade assim que começar a surgir a numeração 30.

Manuel Castelo Branco da Media Capital Telecomunicações mostrou-se menos optimista. «Temos uma baixa penetração de banda larga e as opções do regulador não foram as mais liberais o que poderá dificultar o crescimento da VoIP ».

A convergência entre VoIP e as comunicações móveis foi o tema que finalizou a mesa redonda. Os vários intervenientes neste debate consideraram que o facto de a VoIP ter uma qualidade superior às comunicações de voz móveis poder levar a que os consumidores voltem a migrar para as comunicações de voz fixa.

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