419 — Primeiro debate sobre Imprensa especializada em TIC foi um sucesso

Jul 31, 2002 | Conteúdos Em Português

O debate ‘Jornalismo e Imprensa especializada nas TMT’s / TIC’s em Portugal – Situação actual e Tendências de Desenvolvimento’, organizado pelo Centro de Contacto, contou com mais de 50 convidados, que discutiram problemas e procuraram soluções para o sector da tecnologia.

Conferência C.Contacto

O carácter era informal e pretendia-se que algumas pessoas ligadas ao sector das Tecnologias de Informação, entre elas jornalistas, profissionais de comunicação e alguns empresários, discutissem o tema “Jornalismo e Imprensa especializada nas TMT’s / TIC’s em Portugal – Situação actual e Tendências de Desenvolvimento”.

A conferência, organizada pelo Centro de Contacto, teve lugar no dia 30 de Junho, no Auditório da Livraria Ler Devagar, em Lisboa, e contou com uma afluência de convidados a superar todas as expectativas: mais de 50 participantes. Durante o debate, foram expostas três perspectivas dos três universos de entidades intervenientes: a perspectiva dos jornalistas especializados, que contou com as opiniões de Carlos Marçalo (Semana Informática), João Oliveira (A Capital), Nuno Almeida (Exame), Isabel Gorjão Santos (Público), Timóteo Figueiró (ComputerWorld) e Manuel Posser de Andrade (Expresso); a perspectiva das entidades associativas com a intervenção de Alexandre Cordeiro (APECOM) e de Luís Rosendo (APAP); e, por fim, a perspectiva das empresas do sector, num painel composto por Carlos Marques (Academia Global) e Paulo Laureano (MrNet), entre outros participantes.

Objectivos

Promovido para os três universos de entidades interessadas – Jornalistas ‘especializados’ em TMT, Profissionais nas Agências de Comunicação e Relações Públicas e Responsáveis de Direcção ou Comunicação das principais empresas nas TMT -, o debate teve como principais objectivos analisar os problemas que afectam as relações entre estas entidades e debater a situação de ‘crise’ actual, tentando encontrar soluções para as várias dificuldades com que se defronta cada um dos sectores intervenientes.

O Problema

Para Carlos Marçalo, da Semana Informática, “o sector está em crise e as empresas estão a cortar cada vez mais no marketing”. Neste sentido, os ‘press releases’ seriam uma forma de divulgação dos produtos das empresas do sector, mas, na sua opinião, por vezes, ‘eles não transmitem uma informação fidedigna’.

Conferência“Os órgãos de comunicação especializados que ainda sobrevivem, merecem palmas!”, foram as palavras de João Oliveira, d’A Capital, que espelham a actual situação de crise do sector. Na sua óptica, as principais causas da ‘crise’ foram “a bolha da Internet”, que influenciou o mercado e os meios de comunicação, acabando com “o trabalho de alguns bons jornalistas’, e a política das empresas de telecomunicações, que teve como consequência “a diminuição da publicidade das empresas e dos órgãos que delas fazem notícia”. A seu ver, ‘certos meios de comunicação não terão continuação lógica no papel’ e, por fim, criticou as empresas quando afirmam que os órgãos de comunicação divulgam a informação de forma injusta.

Para Nuno Almeida, da Exame, mais do que discutir a crise, é essencial procurar alternativas. Segundo este jornalista, a solução para a crise do sector passaria pela a associação dos media a operadores de telecomunicações e pelo pagamento do acesso a conteúdos diferenciados e de qualidade.

Por seu lado, Isabel Gorjão Santos, do Público, afirmou que o problema do sector tecnológico e dos media reside na explosão de cursos de Jornalismo, pelo aumento de interesse nesta área por parte dos jovens e pelo ‘boom’ da Internet, uma “galinha de ovos de ouro que se mostrou bastante limitada”. Da mesma forma, opina que o jornalista não deve ter o papel de simples repositor de press releases, afirmando ainda que ‘a tecnologia é uma área muito menos fechada do que parece à primeira vista’.

Na opinião de Timóteo Figueiró, o cenário é “trágico” tanto para as empresas como para os jornalistas do sector. Isto ‘devido ao alto nível de iliteracia em Portugal e à Internet, que alterou a realidade da imprensa”, comenta. Se, por um lado, as empresas continuam a ter meios de divulgação das notícias aos media, têm também a Internet para expôr mais rapidamente os seus produtos, com possibilidade de ‘feedback’ dos clientes. Por outro lado, na opinião do jornalista da ComputerWorld, com o actual fluxo de jornalistas a oferta de mão de obra é superior à procura.

O jornalista do Expresso, Manuel Posser de Andrade, referiu que o aspecto mais dramático da crise é o ‘elevado número de despedimentos, que deixa muitos profissionais sem perspectivas de futuro’. Na sua opinião, ‘o mercado não está saturado’, existindo espaço para novos projectos, ‘desde que não sejam megalómanos’.

Já na área das entidades associativas, Alexandre Cordeiro, da APECOM, comentou que a ‘tragédia’ acontece também noutras áreas das comunicações. Para Cordeiro, um dos grandes problemas está na “hiper-dispersão” dos esforços em Portugal. “Num mercado tão pequeno como o português, fazer um estudo de mercado antes de lançar uma publicação é muito caro. O que acontece é que se opta pelo mais fácil, juntando jornalistas (na sua maioria estagiários) e definindo-se uma ideia e um projecto, colocando a publicação na rua”. Cordeiro afirmou ainda que ‘estranho é que, até ao momento, ainda só tenham fechado sete publicações’, antevendo para breve o encerramento de muitas outras.

A Solução

Para Carlos Marçalo, a solução para um trabalho fidedigno do jornalista passaria pela criação de textos comparativos e análises de mercado, enquanto que João Oliveira defendeu a necessidade de uma tendência para a análise (reportagem crítica) e para a melhoria dos press releases por parte das agências de comunicação.

ConferênciaNuno Almeida, referiu que, com a falta de publicidade e, consequentemente, com a falta de capital, a solução passaria por agregar um acesso pago aos conteúdos, passando pela união dos operadores de telecomunicações aos media na venda de conteúdos de qualidade.

Segundo Timóteo Figueiró, deveria estabelecer-se, em primeiro lugar, uma diferenciação entre dois níveis de trabalhadores: os especializados e a imprensa indiferenciada, bem como separar jornalistas e empresas, para um maior valor acrescentado que é a capacidade de transformar informação em bruto em conhecimento. Deixa, por fim, o desafio colectivo de recriar um sector com a dinâmica de há dois anos atrás.

Na perspectiva de Paulo Laureano, da Mrnet, existe um mercado por explorar, o europeu, onde oportunidades com sucesso não faltam, enquanto que na óptica de Alexandre Cordeiro, devido ao excesso de meios de comunicação, a solução passaria pela contextualização dos conteúdos.

No final da conversa, que se prolongou até às dez da noite, reiterou-se a ideia de que os três sectores continuam a aprender uns com os outros e ficou no ar a ideia de futuramente se realizarem workshops, promovidos pelas empresas do sector para jornalistas e agentes de comunicação, de forma a que todos dominem cada vez melhor uma área tão específica como a das Tecnologias de Informação.

O debate foi seguido de um jantar no Bairro Alto, com cerca de 20 resistentes, que continuaram empenhados no debate e na tentativa de encontrar soluções, mais descontraídos entre copos de vinho alentejano e algumas imperiais… No ar, ficou o desejo generalizado de uma segunda edição do debate, para a próxima com uma agenda de temas para discussão, evitando dispersões e horas tardias!

Em Foco – Produto